16 dezembro 2024
"Presente de Natal"
"Presente de Natal"
Na sexta-feira, dia 13 de dezembro, o Sr. Vereador da Educação, Dr. Correia Pinto, esteve na ESBN para entregar, formalmente, os livros comprados com a verba dada pela Câmara Municipal de Matosinhos a todas as bibliotecas escolares do concelho.
A biblioteca da ESBN, Biblioteca António Nobre, na pessoa da Professora Bibliotecária, congratulou-se com a oferta e agradece a verba dada, que permitiu comprar novos títulos para enriquecer/renovar o seu acervo.
Num pequeno mas sentido momento musical e poético, procedeu-se à cerimónia, que aproveitou para assinalar os cem anos do nascimento do poeta Alexandre O’Neill.
Obrigada, Câmara Municipal!
Obrigada, Dr. Correia Pinto!
12 dezembro 2024
Alexandre O’Neill – o poeta do olhar…
Alexandre O’Neill – o poeta do olhar…
1924 – 2024
Poeta dos mais significativos da sua geração e figura ímpar da sociedade portuguesa do século XX, Alexandre O’Neill nasceu em Lisboa a 19 de dezembro de 1924 e faleceu, também em Lisboa, a 21 de agosto de 1986.
Cofundador do Movimento Surrealista Português (de que mais tarde se demarcou), ao lado de Mário Cesariny, José-Augusto França, entre outros, o poeta tinha um espírito crítico, mordaz e sarcástico e a sua poesia, desenvolta e rigorosa, joga com trocadilhos, associações de ideias e jogos de palavras em que o divertimento, a ironia, o humor negro são contrabalançados por um certo lirismo.
As influências surrealistas permanecem visíveis nas suas obras, que além dos livros de poesia incluem prosa, discos de poesia, traduções e antologias. Não conseguindo viver apenas da sua arte, o autor alargou a sua ação à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar». Trabalhou, igualmente, para o cinema e realizou e expôs obras plásticas.
Alexandre O’Neill é, tal como foi Cesário Verde, o poeta do olhar, mas também um verdadeiro artesão do feio e do ridículo, escrevendo uma poesia preocupada com o seu tempo. Foi várias vezes interrogado e preso pela polícia política, PIDE, por ser um oposicionista, embora nunca tenha militado em nenhum partido político, nem durante o Estado Novo nem depois do 25 de Abril de 1974. A sua obra, marcada por um humor bem característico e nem sempre bem recebido pela “polícia dos bons costumes, foi sujeita em diversas ocasiões à censura do lápis azul. Uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses é bem visível na obra de O’Neill e temas como a solidão, o amor, o sonho, mas também a passagem do tempo e a morte estão presentes e evidenciam o desespero e a revolta do poeta face ao marasmo do país.
Fazendo do humor a sua principal arma e de um individualismo feroz o seu escudo, o poeta escreveu até morrer. O seu espírito peculiar e mordaz são bem evidentes numa nota encontrada no seu espólio e datada de 1981, na qual se pode ler “Já cá não está quem falou”., frase que serviu de título para uma antologia de prosas diversas publicada postumamente.
O calão, a gíria, onomatopeias e neologismos estão bem presentes na sua escrita e são instrumentos ao serviço da paródia feita aos estereótipos sociais do Portugal do Estado Novo.
Prémios recebidos
- Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1981.
- Título de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico, a 10 de junho de 1990, a título póstumo.
Obra
Poesia
1948 – A Ampola Miraculosa, Lisboa, Cadernos Surrealistas.
1951 – Tempo de Fantasmas, Cadernos de Poesia, nº 11.
1958 – No Reino da Dinamarca, Lisboa, Guimarães.
1960 – Abandono Vigiado, Lisboa, Guimarães.
1962 – Poemas com Endereço, Lisboa, Moraes.
1965 – Feira Cabisbaixa, Lisboa, Ulisseia.
1969 – De Ombro na Ombreira, Lisboa, Dom Quixote.
1972 – Entre a Cortina e a Vidraça, Lisboa, Estúdios Cor.
1979 – A Saca de Orelhas, Lisboa, Sá da Costa.
1981 - As Horas Já de Números Vestidas (Em Poesias Completas (1951-1981))
1983 - Dezanove Poemas (Em Poesias Completas (1951-1983))
1967 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.
1974 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1969), 3.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.
1981 – Poesias Completas (1951-1981), Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982.
1983 – Poesias Completas (1951-1983), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.
1986 – O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade seguidos de Ana Brites, Balada tão ao Gosto Popular Português & Vários Outros Poemas, Lisboa, Moraes.
Antologias póstumas
2000 – Poesias Completas, com inclusão de dispersos, introd. de Miguel Tamen, Lisboa, Assírio & Alvim; 2a ed. rev. 2001; 3a ed. 2002; 4a ed. 2005; 5a ed. 2007.
2005 – Anos 1970. Poemas Dispersos, M. A. Oliveira e F. Cabral Martin (eds.), Lisboa, Assírio & Alvim; 2a, 2009.
Prosa
1970 - As Andorinhas não Têm Restaurante, Lisboa, Dom Quixote. (crónicas)
1980 - Uma Coisa em Forma de Assim, 2ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Presença. (contos e crónicas)
Traduções
1950 – Nora Mitrani, A Razão Ardente (Do Romantismo ao Surrealismo), Cadernos Surrealistas, Lisboa.
1959 – Maiakovski, O Percevejo, Lisboa, Editorial Gleba.
1960 – Dostoievski, O Jogador, Lisboa, Guimarães.
1961-63 – Bertolt Brecht, Teatro I e II, (em colaboração com Ilse Losa), Lisboa, Portugália Editora.
1962 – Alfred Jarry, Mestre Ubu, (em colaboração com Luís de Lima), Lisboa, Minotauro.
Antologias
1959 – Gomes Leal – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.
1962 – Teixeira de Pascoaes – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.
1962 – Carl Sandburg – Antologia Poética, Lisboa, Edições Tempo.
1963 – João Cabral de Melo Neto – Poemas Escolhidos, Lisboa, Portugália.
1969 – Vinicius de Moraes – O Poeta Apresenta o Poeta, Lisboa, D. Quixote.
1977 – Poesía Portuguesa Contemporánea / Poesia Portuguesa Contemporânea (em colaboração com a Secção de Literatura da Direção Geral de Ação Cultural), edição bilingue, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura.
Discos de poesia
Alexandre O’Neill diz poemas da sua autoria – coleção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1010.
Os Bichos também são gente – coleção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1278.
Alexandre O'Neill
11 dezembro 2024
Já é Natal na ESBN
E como já é tradição, teremos o nosso Jantar de Partilha, sexta-feira, 13 de dezembro.
Numa época sempre tão cheia de compromissos e exigências é bom arranjarmos um momento para confraternizar e viver os verdadeiros valores do Natal e ensinarmos aos mais jovens a importância desses valores/sentimentos. Que a proximidade, a solidariedade, a ternura e a fraternidade que nos une, neste evento da nossa escola, seja um sinal de esperança num futuro menos marcado pela violência e pelo egoísmo, enfim, um futuro em que as qualidades do ser humano ressurjam e se sobreponham a tanta maldade que marca os nossos dias.
Queremos viver esta festa que é já uma tradição da Escola Secundária da Boa Nova com os valores certos: a paz, a solidariedade e a alegria dos afetos. Acreditamos que são estes valores que cultivamos que nos identificam e nos fazem, talvez, diferentes. Acreditamos que é essa diferença que nos aconchega e nos faz sentir bem nesta casa que é nossa e que queremos que seja a dos nossos alunos e das suas famílias também.
09 dezembro 2024
Feira do livro usado
Visite a Biblioteca António Nobre e compre um livro!
E para embelezar o seu Natal, temos também muitas propostas...
Apareça!
Festa da poesia
Festa da poesia
A ESBN participou na Festa da poesia da Biblioteca Municipal Florbela Espanca. No dia 6 de dezembro, pelas 17:30h, teve lugar um pequeno momento poético, em que a música e a poesia se aliaram para homenagear Florbela Espanca, numa terra de mar, mas também de poetas e de músicos.
Foram lidos poemas/textos por professores e alunos da Escola Secundária da Boa Nova – Leça da Palmeira, acompanhados por momentos musicais que estiveram a cargo de alunos e professores da Escola de Música de Leça da Palmeira.
Os poemas /textos lidos permitiram ver o percurso de vida desta figura tão carismática da literatura portuguesa que viveu em Matosinhos os últimos anos da sua vida e a esta cidade, de forma inquestionável, ficou ligada. Ela que disse num dos seus poemas
“E a vastidão do Mar, toda essa água
Trago-a dentro de mim num Mar de Mágoa!”
28 novembro 2024
Festa da poesia - Biblioteca Municipal Florbela Espanca
21 novembro 2024
Dia Mundial da Filosofia
DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA
21 de novembro
Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, reconhecendo a sua importância, e a relevância do seu ensino, para o desenvolvimento do pensamento crítico e de pessoas com maior capacidade de reflexão e de intervenção na tentativa de resolução dos inúmeros problemas com que se confrontam as sociedades contemporâneas. Desde então, este dia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira do mês de novembro, pelo que este ano terá lugar a 21 de novembro.
No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Filosofia, serão oferecidos aos alunos rebuçados, acompanhados de pensamentos e aforismos, que pretendem suscitar a reflexão e gosto pelo filosofar. A distribuição será realizada no turno da manhã e da tarde. De manhã no 1.º tempo do 2.º bloco (pelas 10:30) e de tarde no 2º tempo do 1º bloco (pelas 14h25). Alunos de Filosofia farão esta distribuição pelas salas que será acompanhada por um convite aos professores para lerem alguns dos pensamentos e refletirem, com os seus alunos, em torno deles.
Na biblioteca António Nobre, a biblioteca da escola, está patente uma exposição de livros, no âmbito da Filosofia, bem como um trabalho plástico realizado por alunos das Artes Visuais.
Apareça!
Visite a biblioteca!
07 novembro 2024
Teatro "Amor de Perdição"
"Amor de Perdição"
Esta representação serviu de motivação à leitura e estudo da obra que faz parte dos conteúdos programáticos do 11.º ano.
"Pelo contrário"
"Pelo contrário" - palestra com o professor António Nabais
04 novembro 2024
Xadrez na Biblioteca António Nobre
O Xadrez continua na Biblioteca António Nobre.
Se quer jogar, apareça! Os tabuleiros estão à sua espera!
E às quintas-feiras, das 11h às 14h, podem aprender ou aprender mais com o Mestre Vitorino!
Porque ler faz bem!
Porque ler faz bem!
No Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE), foram muitos os alunos que, em turma ou individualmente, visitaram a Biblioteca António Nobre.
Foram momentos de partilha de experiências de leitura, mas também de formação de utilizadores.
Boas leituras para o ano letivo 2024-2025!
24 outubro 2024
Dia do Diploma
Dia do Diploma
Foi com muito entusiasmo que, mais uma vez, a ESBN se encheu de alunos, pais e encarregados de educação que responderem a este nosso convite para a cerimónia do Dia do Diploma.
É um dia importante para muitos dos que aqui trabalham e estudam: é a ocasião de se aplaudir o desempenho e o envolvimento dos alunos, de os acarinhar, mas também de mostrar um pouco quem somos, enquanto escola, e como trabalhamos num momento de convívio e de expressão dos laços que nos ligam, para além da mera relação institucional.
E se a Escola teve sempre muitos desafios para enfrentar, nos dias que correm, esses desafios são, talvez, ainda maiores pois o ritmo a que a mutação constante da sociedade ocorre é difícil de acompanhar. E se a Escola tem o dever de transmitir conhecimentos, tem, igualmente, de ser capaz de ensinar também valores e procedimentos para a resolução de problemas, para que os jovens possam compreender melhor o mundo em que vivem e nele intervir civicamente. E, hoje, foram alguns desses jovens que subiram ao palco para receber um diploma que lhes reconhece mérito pelo seu desempenho na aquisição do conhecimento, mas igualmente mérito pelo seu envolvimento na vida da escola.
E porque uma festa não se faz sem música, e a ESBN fomenta as artes em geral e a música muito particularmente, os presentes puderam usufruir de um bonito momento artístico com música e poesia.
Parabéns a todos os homenageados!
Encontro com o escritor...
Maria Francisca Gama
21 outubro 2024
Público na Escola
Webinar “Da tua biblioteca ao público – Isto também é comigo!”
Foi uma atividade de educação mediática que permitiu a partilha de experiências, tendo sido dado um enfoque particular à importância da leitura dos jornais e ao desenvolvimento da manifestação da opinião enquanto fator determinante numa sociedade democrática e um incentivo ao exercício da cidadania.
Fazer-se ouvir é importante!
Estar bem informado é ter poder!
17 outubro 2024
António Ramos Rosa
António Ramos Rosa
1924 - 2024
“Estou vivo e escrevo sol”
Valorizando a troca de experiências entre os diferentes poetas com quem se cruzou, Ramos Rosa dizia ter a “firme convicção de que a poesia não é o fruto de uma aventura verbal, mas uma constante inquirição do que na palavra é a dimensão do ser, ou seja, o que, transcendendo a palavra, é a palavra viva do desconhecido que a promove e que, por seu turno, é o seu incessante termo." (ROSA, António Ramos, "Um Espaço Indispensável à Poesia", in Letras & Letras, n.º 56, outubro de 1991).
Com uma obra poética imensa, António Ramos Rosa trabalhou muito sobre a linguagem sem nunca esquecer o empenhamento cívico.
A sua poesia é marcada pelo depuramento da linguagem, uma procura constante pela palavra exata e simples, transparente, mas assumindo uma função simbólica, num lirismo exigente e atento ao poder da palavra, arma denunciadora da opressão e defensora da liberdade. É uma poesia com despreocupação rimática, irregularidade estrófica e métrica, em que a metáfora marca presença de forma destacada.
António Ramos Rosa, o poeta que dedicou toda a sua vida à poesia, nasceu a 17 de outubro de 1924, em Faro, no Algarve, e morreu a 23 de setembro de 2013, em Lisboa.
Prémios recebidos
Prémio Literário da Casa da Imprensa, 1971
Prémio da Fundação de Hautevilliers para o Diálogo de Culturas (Prémio de Tradução), 1976
Prémio PEN Clube Português de Poesia, 1980
Prémio Nicola de Poesia, 1986
Prémio Jacinto do Prado Coelho, do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1987
Prémio Fernando Pessoa, 1988
Grande Prémio de Poesia APE/CTT, 1989
Prémio da Bienal de Poesia de Liége, 1991
Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia traduzido em França, 1992
Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), 1992
Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen, 2005
Grande Prémio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores/CTT - Correios de Portugal, 2006
Prémio Luís Miguel Nava, 2006.
Principais obras
O Grito Claro, 1958
Viagem Através duma Nebulosa, 1960
Voz Inicial, 1961
Sobre o Rosto da Terra, 1961
Poesia, Liberdade Livre, 1962
Ocupação do Espaço, 1963
Terrear, 1964
Estou Vivo e Escrevo Sol, 1966
A Construção do Corpo, 1969
Nos Seus Olhos de Silêncio, 1970
A Pedra Nua, 1972
Não Posso Adiar o Coração (vol.I, da Obra Poética), 1974
Animal Olhar (vol.II, da Obra Poética), 1975
Respirar a Sombra (vol.III, da Obra Poética), 1975
Ciclo do Cavalo, 1975
Boca Incompleta, 1977
A Imagem, 1977
A Palavra e o Lugar, 1977
As Marcas no Deserto, 1978
A Nuvem Sobre a Página, 1978
Figurações e Círculo Aberto 1979
A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979 -1980)
O Incêndio dos Aspetos, 1980
Declives e Le Domaine Enchanté, 1980
Figura: Fragmentos e As Marcas do Deserto, 1980
O Centro na Distância, 1981
O Incerto Exato, 1982
Quando o Inexorável e Gravitações, 1983
Dinâmica Subtil, 1984
Ficção e Mediadoras, 1985
Volante Verde, Vinte Poemas para Albano Martins e Clareiras, 1986
No Calcanhar do Vento, 1987
O Livro da Ignorância e O Deus Nu(lo), 1988
Três Lições Materiais e Acordes, 1989
Duas Águas, Um Rio (colaboração com Casimiro de Brito)
O Não e o Sim, Facilidade do Ar e Estrias, 1990
A Rosa Esquerda e Oásis Branco, 1991
Pólen- Silêncio e As Armas Imprecisas, 1992
Clamores e Dezassete Poemas, 1992
Lâmpadas Com Alguns Insetos, 1993
O Teu Rosto e O Navio da Matéria, 1994
Três, 1995
Delta e Figuras Solares, 1996
Nomes de Ninguém e Versões/Inversões, 1997
À mesa do vento seguido de As espirais de Dioniso, 1997
A imagem e o desejo e A imobilidade fulminante, 1998
Pátria soberana, seguido de Nova ficção, 1999
O princípio da água, 2000
As palavras, Deambulações oblíquas e O aprendiz secreto, 2001
O deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências, 2001
Os volúveis diademas, Cada árvore é um ser para ser em nós e O sol é todo o espaço, 2003
Os animais do sol e da sombra seguido de O corpo inicial, 2003
Meditações metapoéticas, em colaboração com Robert Bréchon, 2003
O que não pode ser dito, 2003
Relâmpago do nada, 2004
Bichos, em colaboração com Isabel Aguiar Barcelos, 2005
Génese seguido de Constelações, 2005
Vasos Comunicantes, Diálogo Poético com Gisela Ramos Rosa, 2006
Horizonte a Ocidente e Rosa Intacta, 2007
Prosas seguidas de diálogos (única obra em prosa), 2011
Numa folha, leve e livre, 2013
Para saber mais...
Poesia de António Ramos Rosa
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
O FUNCIONÁRIO CANSADO
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
são palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
O grito claro
De escadas insubmissas
de fechaduras alerta
de chaves submersas
e roucos subterrâneos
onde a esperança enlouqueceu
de notas dissonantes
dum grito de loucura
de toda a matéria escura
sufocada e contraída
nasce o grito claro
ESTOU VIVO E ESCREVO SOL
Eu escrevo versos ao meio-dia e a morte ao sol é uma cabeleira que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no ato de escrever e sol
a vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objetos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde