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12 dezembro 2024

20:30 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

Alexandre O’Neill – o poeta do olhar…

1924 – 2024


        Poeta dos mais significativos da sua geração e figura ímpar da sociedade portuguesa do século XX, Alexandre O’Neill nasceu em Lisboa a 19 de dezembro de 1924 e faleceu, também em Lisboa, a 21 de agosto de 1986. 

        Cofundador do Movimento Surrealista Português (de que mais tarde se demarcou), ao lado de Mário Cesariny, José-Augusto França, entre outros, o poeta tinha um espírito crítico, mordaz e sarcástico e a sua poesia, desenvolta e rigorosa, joga com trocadilhos, associações de ideias e jogos de palavras em que o divertimento, a ironia, o humor negro são contrabalançados por um certo lirismo.

        As influências surrealistas permanecem visíveis nas suas obras, que além dos livros de poesia incluem prosa, discos de poesia, traduções e antologias. Não conseguindo viver apenas da sua arte, o autor alargou a sua ação à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar». Trabalhou, igualmente, para o cinema e realizou e expôs obras plásticas.

        Alexandre O’Neill é, tal como foi Cesário Verde, o poeta do olhar, mas também um verdadeiro artesão do feio e do ridículo, escrevendo uma poesia preocupada com o seu tempo. Foi várias vezes interrogado e preso pela polícia política, PIDE, por ser um oposicionista, embora nunca tenha militado em nenhum partido político, nem durante o Estado Novo nem depois do 25 de Abril de 1974. A sua obra, marcada por um humor bem característico e nem sempre bem recebido pela “polícia dos bons costumes, foi sujeita em diversas ocasiões à censura do lápis azul. Uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses é bem visível na obra de O’Neill e temas como a solidão, o amor, o sonho, mas também a passagem do tempo e a morte estão presentes e evidenciam o desespero e a revolta do poeta face ao marasmo do país.

        Fazendo do humor a sua principal arma e de um individualismo feroz o seu escudo, o poeta escreveu até morrer. O seu espírito peculiar e mordaz são bem evidentes numa nota encontrada no seu espólio e datada de 1981, na qual se pode ler “Já cá não está quem falou”., frase que serviu de título para uma antologia de prosas diversas publicada postumamente. 

        O calão, a gíria, onomatopeias e neologismos estão bem presentes na sua escrita e são instrumentos ao serviço da paródia feita aos estereótipos sociais do Portugal do Estado Novo.


Prémios recebidos

- Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1981.

- Título de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico, a 10 de junho de 1990, a título póstumo.


Obra 

Poesia 

1948 – A Ampola Miraculosa, Lisboa, Cadernos Surrealistas.

1951 – Tempo de Fantasmas, Cadernos de Poesia, nº 11.

1958 – No Reino da Dinamarca, Lisboa, Guimarães.

1960 – Abandono Vigiado, Lisboa, Guimarães.

1962 – Poemas com Endereço, Lisboa, Moraes.

1965 – Feira Cabisbaixa, Lisboa, Ulisseia.

1969 – De Ombro na Ombreira, Lisboa, Dom Quixote.

1972 – Entre a Cortina e a Vidraça, Lisboa, Estúdios Cor.

1979 – A Saca de Orelhas, Lisboa, Sá da Costa.

1981 - As Horas Já de Números Vestidas (Em Poesias Completas (1951-1981))

1983 - Dezanove Poemas (Em Poesias Completas (1951-1983))

1967 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.

1974 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1969), 3.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.

1981 – Poesias Completas (1951-1981), Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982.

1983 – Poesias Completas (1951-1983), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.

1986 – O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade seguidos de Ana Brites, Balada tão ao Gosto Popular Português & Vários Outros Poemas, Lisboa, Moraes.


Antologias póstumas

2000 – Poesias Completas, com inclusão de dispersos, introd. de Miguel Tamen, Lisboa, Assírio & Alvim; 2a ed. rev. 2001; 3a ed. 2002; 4a ed. 2005; 5a ed. 2007.

2005 – Anos 1970. Poemas Dispersos, M. A. Oliveira e F. Cabral Martin (eds.), Lisboa, Assírio & Alvim; 2a, 2009.


Prosa 

1970 - As Andorinhas não Têm Restaurante, Lisboa, Dom Quixote. (crónicas)

1980 - Uma Coisa em Forma de Assim, 2ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Presença. (contos e crónicas)


Traduções 

1950 – Nora Mitrani, A Razão Ardente (Do Romantismo ao Surrealismo), Cadernos Surrealistas, Lisboa.

1959 – Maiakovski, O Percevejo, Lisboa, Editorial Gleba.

1960 – Dostoievski, O Jogador, Lisboa, Guimarães.

1961-63 – Bertolt Brecht, Teatro I e II, (em colaboração com Ilse Losa), Lisboa, Portugália Editora.

1962 – Alfred Jarry, Mestre Ubu, (em colaboração com Luís de Lima), Lisboa, Minotauro.


Antologias

1959 – Gomes Leal – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.

1962 – Teixeira de Pascoaes – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.

1962 – Carl Sandburg – Antologia Poética, Lisboa, Edições Tempo.

1963 – João Cabral de Melo Neto – Poemas Escolhidos, Lisboa, Portugália.

1969 – Vinicius de Moraes – O Poeta Apresenta o Poeta, Lisboa, D. Quixote.

1977 – Poesía Portuguesa Contemporánea / Poesia Portuguesa Contemporânea (em colaboração com a Secção de Literatura da Direção Geral de Ação Cultural), edição bilingue, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura.


Discos de poesia

Alexandre O’Neill diz poemas da sua autoria – coleção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1010.

Os Bichos também são gente – coleção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1278.







 

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