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31 março 2025

Alunos do CAA na BE

12:25 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments


Alunos do CAA na BE

        Partindo de um pequeno poema de Miguel Torga, os alunos do CAA falaram sobre a Primavera e deram largas à sua imaginação: com flores e outros materiais,  muita cor e alegria fizeram colagens representando a estação que, com o seu bom tempo, anima este final de período...


Depois do Inverno, morte figurada,
A Primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
                        
                                                    Miguel Torga





 

Concurso Local de Leitura.

11:10 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments



        Mais uma vez a leitura esteve em festa, no concelho de Matosinhos, com o Concurso Local de Leitura.

        Foram 89 alunos de diversas escolas que, nos diferentes níveis de ensino, participaram neste concurso de leitura.


        Parabéns à Íris e ao Rafael que tão bem representaram a ESBN!

        Mas parabéns, também, a todos os alunos participantes!




27 março 2025

Ler, hoje, Camilo Castelo Branco

11:00 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 

“Ler, hoje, Camilo Castelo Branco”



Na próxima quarta-feira, dia 2 de abril, a Biblioteca António Nobre recebe, mais uma vez, a Dra. Dália Dias para uma conversa sobre Camilo Castelo Branco.
A atualidade dos textos de Camilo e a importância dos nossos jovens continuarem a ler este autor, tão significativo da literatura portuguesa, serão aspetos abordados neste nosso encontro.




Semana da Leitura

10:57 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 


A Semana da Leitura da ESBN realiza-se de 31 de março a 4 de abril.

Visita a Biblioteca!

Participa nas atividades promovidas pela Biblioteca António Nobre!

Concurso Local de Leitura

10:55 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments



Realiza-se, amanhã, 28 de fevereiro, a fase final do Concurso Local de Leitura.

         Este evento, que ocorrerá na Escola Secundária do Padrão da Légua, resulta de uma parceria da Biblioteca Municipal Florbela Espanca com as Bibliotecas Escolares do concelho de Matosinhos e tem como intuito principal promover a leitura nas crianças e jovens que frequentam as muitas escolas do concelho.  


Dia do Livro Português

10:49 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 Dia do Livro Português




«O livro é, sobretudo,

um recipiente onde o tempo repousa.

Uma prodigiosa armadilha com a qual a inteligência

e a sensibilidade humana

venceram essa condição efémera, fluente,

que levava a experiência do viver

para o nada do esquecimento.»

Emilio Lledó, Los libros y la libertad



        Celebrou-se, ontem, o Dia do Livro Português.

        Esta efeméride foi criada pela Sociedade Portuguesa de Autores para destacar a importância do livro, da cultura e da língua portuguesa em todo o mundo.

        A escolha do dia 26 de março para esta celebração prende-se com o facto de, neste dia, em 1487, se ter imprimido o primeiro livro em Portugal: o “Pentateuco”, em hebraico. 

        O primeiro livro escrito em português foi impresso no Porto, dez anos depois, a 4 de janeiro de 1497. Produzido pelo primeiro impressor luso, Rodrigo Álvares, o livro tinha o título de “Constituições que fez o Senhor Dom Diogo de Sousa, Bispo do Porto”. 


20 março 2025

A primavera chegou à Biblioteca António Nobre!

13:23 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 

A primavera chegou à Biblioteca António Nobre!



        Celebra-se, hoje, o equinócio da primavera, o primeiro dia da nova estação, que ocorreu às 9h01 – nesse preciso momento, o Sol estava na vertical sobre o equador da Terra e nasceu quase exatamente a leste e pôs-se a oeste. 

        A partir desta quinta-feira, entra-se oficialmente na primavera e ganha-se uma média de 4 minutos de sol por dia até 21 de junho, o solstício de verão.

        Hoje o dia vai durar o mesmo que a noite!

        Existem duas alturas em que o dia e a noite têm quase exatamente 12 horas de duração cada: uma em março e outra em setembro, ambas chamadas de equinócio. Como o planeta Terra tem uma órbita irregular em torno do Sol, essas datas variam de um ano para outro: a primeira ocorre entre 20 e 21 de março e a segunda entre 21 e 23 de setembro.

        O fim do inverno no hemisfério norte corresponde, no hemisfério sul, ao início do outono.


Depois do Inverno, morte figurada,

A Primavera, uma assunção de flores.

A vida

Renascida

E celebrada

Num festival de pétalas e cores.

                                    

                                                Miguel Torga

 

 

Olhos postos na terra, tu virás

no ritmo da própria Primavera,

e como as flores e os animais

abrirás as mãos de quem te espera


                                                       Eugénio de Andrade


Quando tornar a vir a Primavera

Talvez já não me encontre no mundo.

Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente

Para poder supor que ela choraria,

Vendo que perdera o seu único amigo.

Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:

É uma maneira de dizer.

Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.

Há novas flores, novas folhas verdes.

Há outros dias suaves.

Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

 

                 Alberto Caeiro in "Quando Vier a Primavera"

 

 

Quando à noite desfolho e trinco as rosas

É como se prendesse entre os meus dentes

Todo o luar das noites transparentes,

Todo o fulgor das tardes luminosas,

O vento bailador das Primaveras,

A doçura amarga dos poentes,

E a exaltação de todas as esperas.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Dia do Mar


Está-se a Primavera trasladando

em vossa vista deleitosa e honesta;

nas lindas faces, olhos, boca e testa,

boninas, lírios, rosas debuxando.


De sorte, vosso gesto matizando,

natura quanto pode manifesta

que o monte, o campo, o rio e a floresta

se estão de vós, Senhora, namorando.


Se agora não quereis que quem vos ama

possa colher o fruto destas flores,

perderão toda a graça vossos olhos.


Porque pouco aproveita, linda Dama,

que semeasse Amor em vós amores,

se vossa condição produz  abrolhos.

 

Luiz Vaz de Camões

 

Já se afastou de nós o Inverno agreste

Envolto nos seus húmidos vapores,

A fértil Primavera, a mãe das flores

O prado ameno de boninas veste.


Varrendo os ares o subtil Nordeste,

Os torna azuis: as aves de mil cores

Adejam entre Zéfiros e Amores,

E toma o fresco Tejo a cor celeste.


Vem, ó Marília, vem lograr comigo

Destes alegres campos a beleza,

Destas copadas árvores o abrigo.


Deixa louvar da corte a vã grandeza:

Quando me agrada mais estar contigo

Notando as perfeições da Natureza!


     Manuel Maria Barbosa du Bocage, in Sonetos


Dia Mundial da Poesia

12:45 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments


21 de março

Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia


Desde a névoa da manhã

à névoa do outro dia.


Desde a quentura do ventre

à frigidez da agonia


Todo o tempo é de poesia


Entre bombas que deflagram.

Corolas que se desdobram.

Corpos que em sangue soçobram.

Vidas que a amar se consagram.


Sob a cúpula sombria

das mãos que pedem vingança.

Sob o arco da aliança

da celeste alegoria.


Todo o tempo é de poesia.


Desde a arrumação ao caos

à confusão da harmonia

António Gedeão. Poesias Completas (1956-1967).


Como se faz o poema

Para falarmos do meio de obter o poema,

a retórica não serve. Trata-se de uma coisa simples, que não

precisa de requintes nem de fórmulas. Apanha-se

uma flor, por exemplo, mas que não seja dessas flores que crescem

no meio do campo, nem das que se vendem nas lojas

ou nos mercados. É uma flor de sílabas, em que as

pétalas são as vogais, e o caule uma consoante. Põe-se

no jarro da estrofe, e deixa-se estar. Para que não morra,

basta um pedaço de primavera na água, que se vai

buscar à imaginação, quando está um dia de chuva,

ou se faz entrar pela janela, quando o ar fresco

da manhã enche o quarto de azul. Então,

a flor confunde-se com o poema, mas ainda não é

o poema. Para que ele nasça, a flor precisa

de encontrar cores mais naturais do que essas

que a natureza lhe deu. Podem ser as cores do teu

rosto - a sua brancura, quando o sol vem ter contigo,

ou o fundo dos teus olhos em que todas as cores

da vida se confundem, com o brilho da vida. Depois,

deito essas cores sobre a corola, e vejo-as descerem

para as folhas, como a seiva que corre pelos

veios invisíveis da alma. Posso, então, colher a flor,

e o que tenho na mão é este poema que

me deste.


Nuno Júdice | Geometria Variável | Publicações Dom Quixote, 2005


O Poema

O poema não é o canto

que do grilo para a rosa cresce.

O poema é o grilo

é a rosa

e é aquilo que cresce.

É o pensamento que exclui

uma determinação

na fonte donde ele flui

e naquilo que descreve.

O poema é o que no homem

para lá do homem se atreve.

Os acontecimentos são pedras

e a poesia transcendê-las

na já longínqua noção

de descrevê-las.

E essa própria noção é só

uma saudade que se desvanece

na poesia. Pura intenção

de cantar o que não conhece.

Natália Correia


Arte poética

Encontrei a poesia antes de saber que havia literatura. Pensava que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, que eram como um elemento do natural, que estavam suspensos, imanentes. E que bastaria estar muito quieta, calada e atenta para os ouvir.

Desse encontro inicial ficou em mim a noção de que fazer versos é estar atento e de que o poeta é um escutador.

Sophia de Mello Breyner Andresen. “Arte poética IV”, Dual, in Obra Poética III, Lisboa: Caminho, 1991.


O poeta

Foi visto

(diversas vezes) com uma 

caneta na mão. Nem 

tentava disfarçar. Sentava-se à mesa consigo

(sempre

cingido de livros) e escutem: 

o que fazia era 

escrever poemas. Sei muito bem o que digo.

Ele fazia poemas. Os outros 

passavam ao largo

(fugindo a qualquer pergunta) ele nem 

sequer escondia o que ali estava a fazer. Ali 

à frente de todos. Linhas e linhas escritas.

Não se limitava apenas a viver a sua vida.

Sei muito bem o 

que digo. Aquilo eram 

poemas.


João Luís Barreto Guimarães


Liberdade

O poema é

A liberdade


Um poema não se programa

Porém a disciplina

— Sílaba por sílaba —

O acompanha


Sílaba por sílaba

O poema emerge

— Como se os deuses o dessem

O fazemos


Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas


Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até

a mais obscura.

O leitor é que tem às vezes,

em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.

E o nevoeiro nunca deixa ver claro.

Se regressar

outra vez e outra vez

e outra vez

a essas sílabas acesas

ficará cego de tanta claridade.

Abençoado seja se lá chegar.


Eugénio de Andrade. Os Sulcos da Sede. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2021.








Camilo Castelo Branco

12:45 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 

Camilo Castelo Branco

(1825 - 2025)



𝐁𝐢𝐛𝐥𝐢𝐨𝐭𝐞𝐜𝐚 𝐌𝐮𝐧𝐢𝐜𝐢𝐩𝐚𝐥 𝐅𝐥𝐨𝐫𝐛𝐞𝐥𝐚 𝐄𝐬𝐩𝐚𝐧𝐜𝐚 𝐚𝐬𝐬𝐢𝐧𝐚𝐥𝐚 𝐨𝐬 𝟐𝟎𝟎 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐧𝐚𝐬𝐜𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐂𝐚𝐦𝐢𝐥𝐨 𝐂𝐚𝐬𝐭𝐞𝐥𝐨 𝐁𝐫𝐚𝐧𝐜𝐨 𝐜𝐨𝐦 𝐞𝐱𝐩𝐨𝐬𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨𝐜𝐮𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐥


        Em 2025, celebra-se o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa. No âmbito das comemorações, a Biblioteca Municipal Florbela Espanca inaugura no próximo dia 15 de março a exposição documental “200 anos de Camilo Castelo Branco”.

        A exposição reúne uma seleção de documentos do vasto espólio Camiliano da Biblioteca Municipal Florbela Espanca, constituída por mais de 1600 documentos, que inclui primeiras edições, tiposcritos, publicações periódicas e recortes de imprensa, fotografias, jornais e revistas, documentos biográficos, correspondência, entre outros.

        A presente mostra pretende proporcionar ao público uma experiência educativa e enriquecedora, dando a conhecer diversas facetas da vida e obra de Camilo, perpetuando assim, o legado do autor que, através das suas palavras, traçou um mapa simbólico do Norte de Portugal e cuja “obra traz até nós o palpitar humano das províncias nortenhas no seu tempo, como uma vida que nenhum ficcionista voltou a captar”.

        Camilo Castelo Branco, o representante máximo da segunda geração romântica portuguesa, nasceu em Lisboa em 1825. Foi um escritor prolifico - aliás, o primeiro escritor português a viver exclusivamente de seus textos - com mais de duas centenas de obras entre poesia, teatro, contos, romances e novelas históricas. Dedicou-se também à critica e história literária, tradução, biografias, ao jornalismo e deixou uma epistolografia vastíssima (mais de duas mil cartas). O seu romance mais conhecido e traduzido é “Amor de Perdição”, já adaptado ao cinema por vários realizadores.

        A exposição estará patente ao público de 15 de março a 17 de maio no átrio da Biblioteca Municipal Florbela Espanca.

        Entrada livre e gratuita.


Estão ainda previstas as sessões sobre a temática camiliana dinamizadas pela Professora Dália Dias.

 
 

Oficinas literárias  “200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco”

 

21 de abril: 17h30;

28 de abril: 17h30;

5 de maio: 17h30;

12 de maio: 17h30;

17 março 2025

Dia da Árvore

13:01 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 DIA DA ÁRVORE



        O Dia Mundial da Árvore ou da Floresta celebra-se anualmente a 21 de março e tem como principal objetivo sensibilizar a população mundial para a importância da preservação das árvores, uma vez que estas são imprescindíveis quer para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta, quer para a própria qualidade de vida de todos os cidadãos. 

        Estima-se que 1000 árvores adultas absorvem cerca de 6000 kg de CO2 (dióxido de carbono) e sabe-se que 30% da superfície terrestre está coberta por florestas, através das quais se realiza a fotossíntese, isto é, a produção de oxigénio a partir de dióxido de carbono. 

        As florestas, em conjunto com as algas marinhas são consideradas os "pulmões do mundo": fazem a manutenção e renovação dos diferentes ecossistemas e assumem uma enorme importância em áreas estratégicas como a economia e a produção de bens e alimentos. 

        É, por isso, normal que todos os anos, no dia 21 de março, decorram diversas ações de arborização e reflorestação, em diversos locais do mundo.


        Pela sua beleza poética sempre renovada, a natureza tem servido de estímulo criativo para muitas obras de arte ao longo dos tempos, seja na pintura, no desenho, na fotografia, na escultura ou na música. E a poesia não é exceção: nos mais variados locais do mundo, ao longo da história da humanidade, não faltam poemas inspirados nas sensações que as florestas e as árvores despertam no ser humano. Os seus sons, cores, perfumes, ritmos e até a sua longevidade têm sido musas inspiradoras para muitos poetas…

        Aqui ficam alguns belos poemas.



Poema das árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.


Começam por ser nada. Pouco a pouco

se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.


Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,

e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.


Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,

e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,

e os frutos dão sementes,

e as sementes preparam novas árvores.


E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.

Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.

Sempre sós.


Os animais são outra coisa.

Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,

fazem amor e ódio, e vão à vida

como se nada fosse.


As árvores, não.

Solitárias, as árvores,

exauram terra e sol silenciosamente.

Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;

com o vento soltam ais como se suspirassem;

e gemem, mas a queixa não é sua.


Sós, sempre sós.

Nas planícies, nos montes, nas florestas,

A crescer e a florir sem consciência.


Virtude vegetal viver a sós

e entretanto, dar flores.

                                           António Gedeão, in “Obra Poética”


A fermosura desta fresca serra,

E a sombra dos verdes castanheiros,

O manso caminhar destes ribeiros,

Donde toda a tristeza se desterra;


O rouco som do mar, a estranha terra,

O esconder do Sol pelos outeiros,

O recolher dos gados derradeiros,

Das nuvens pelo ar a branda guerra;


Enfim, tudo o que a rara natureza

Com tanta variedade nos of’rece,

Me está se não te vejo magoando.


Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

Sem ti, perpetuamente estou passando

Nas mores alegrias, mor tristeza.

                                               Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”


Como um vento na floresta,

Minha emoção não tem fim.

Nada sou, nada me resta.

Não sei quem sou para mim.


E como entre os arvoredos

Há grandes sons de folhagem,

Também agito segredos

No fundo da minha imagem.


E o grande ruído do vento

Que as folhas cobrem de som

Despe-me do pensamento:

Sou ninguém, temo ser bom.

                                                 Fernando Pessoa, in “Poesias Inéditas”


A um carvalho

Eis o pai da montanha, o bíblico Moisés

Vegetal!

Falou com Deus também,

E debaixo dos pés, inominada, tem

A lei da vida em pedra natural!


Forte como um destino,

Calmo como um pastor,

E sempre pontual e matutino

A receber o frio e o calor!


Barbas, rugas e veias

De gigante.

Mas, sobretudo, braços!

Longos e negros desmedidos traços,

Gestos solenes duma fé constante…


Folhas verdes à volta do desejo

Que amadurece.

E nos olha a prece

Da eternidade

Eis o pai da montanha, o fálico pagão

Que se veste de neve e guarda a mocidade

No coração!

                                                              Miguel Torga, in “Diário V”


A um Negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta.

Os meus versos são folhas dos seus ramos.

Quando chego de longe e conversamos,

É ele que me revela o mundo visitado.

Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,

E a luz do sol aceso ou apagado

É nos seus olhos que se vê pousada.


Esse poeta és tu, mestre da inquietação

Serena!

Tu, imortal avena

Que harmonizas o vento e adormeces o imenso

Redil de estrelas ao luar maninho.

Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso

Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

                                                                                             Miguel Torga 


Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração

Os pássaros nascem na ponta das árvores

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros

Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores

Os pássaros começam onde as árvores acabam

Os pássaros fazem cantar as árvores

Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam

movimentam-se

deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal

Como pássaros poisam as folhas na terra

quando o outono desce veladamente sobre os campos

Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores

mas deixo essa forma de dizer ao romancista

é complicada e não se dá bem na poesia

não foi ainda isolada da filosofia

Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros

Quem é que lá os pendura nos ramos?

De quem é a mão a inúmera mão?

Eu passo e muda-se-me o coração

                                                    Ruy Belo, in “Homem de Palavra(s)”



Árvore

Onde os frutos maduram:

sal e sol em minhas veias

luz e mel em boca alheia.


Onde plantei

a alta acácia das febres

eu mesmo me deitei,

para ser a raiz da semente,

e da madeira e seiva

se fez o meu corpo.


Agora,

Chove dentro de mim,

em minhas folhas se demoram gotas,

suspensas entre um e outro Sol.


Em mim pousam

cantos e sombras

e eu não sei

se são aves ou palavras.

                                         Mia Couto, in “Vagas e Lumes”


Cada árvore é um ser para ser em nós

Para ver uma árvore não basta vê-la

a árvore é uma lenta reverência

uma presença reminiscente

uma habitação perdida

e encontrada

À sombra de uma árvore

o tempo já não é o tempo

mas a magia de um instante que começa sem fim

a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas

e de sombras interiores

nós habitamos a árvore com a nossa respiração

com a da árvore

com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

                                                                                                   António Ramos Rosa



São eles que anunciam o verão.

Não sei doutra glória, doutro

paraíso: à sua entrada os jacarandás

estão em flor, um de cada lado.

E um sorriso, tranquila morada,

à minha espera.

O espaço a toda a roda

multiplica os seus espelhos, abre

varandas para o mar.

É como nos sonhos mais pueris:

posso voar quase rente

às nuvens altas - irmão dos pássaros -,

perder-me no ar.

                                                                   Eugénio de Andrade



É Primavera agora, meu Amor!

O campo despe a veste de estamenha;

Não há árvore nenhuma que não tenha

O coração aberto, todo em flor!


Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor

Da vida... não há bem que nos não venha

Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!

Não há bem que não possa ser melhor!


Também despi meu triste burel pardo,

E agora cheiro a rosmaninho e a nardo

E ando agora tonta, à tua espera...


Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...

Parecem um rosal! Vem desprendê-los!

Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...

                                                                        Florbela Espanca


 














13 março 2025

Dia Mundial da poesia

12:17 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 

DIA MUNDIAL DA POESIA

21 de março


        O Dia Mundial da Poesia celebra-se a 21 de março desde 1999. Esta celebração foi criada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) na sua 30.ª Conferência Geral, e tem como objetivo promover a leitura e a escrita, mas também a publicação e o ensino de poesia em todo o mundo, enfim, " para homenagear a poesia, promover a diversidade das línguas e intensificar os intercâmbios entre culturas […] já que, por meio da poesia, os idiomas ameaçados terão maiores possibilidades de se expressar dentro das suas comunidades respetivas”. Além disso, significa a “aceitação da palavra como elemento que socializa e estrutura a pessoa”, podendo “ ajudar os jovens a redescobrir valores essenciais” e, simultaneamente, a refletir sobre si mesmos.

        Segundo este organismo, é fundamental "dar novo reconhecimento e impulso aos movimentos de poesia nacionais, regionais e internacionais".

        Dar a voz à poesia é dar voz não apenas a quem a escreve, mas também a quem a lê e divulga ou até a quem a canta.


À maneira de uma cosmogonia

        Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficaram, que ela se instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução.

        Evitou sempre a vaidade. Mas o vento da história, inapercebidamente, por vezes, demorou-se nela libertando o seu perfume, soltando os seus enigmas, fazendo-a avançar com todo o esplendor. E nada existe que a poesia não tenha experimentado, desde o mais recôndito silêncio do deserto, ao fragor das batalhas mais sangrentas. Da mais humilde das intimidades, ao luxo sinuoso do palácio. Com o tempo, e já depois da comunhão primordial, era o homem, por necessidade de uma comunicação maior, que a procurava e lhe abria o coração até que ela, muito discretamente, voltava a estremecer no seu sangue.

        Poesia e homem criaram assim uma cúmplice e indissociável relação por todo o mundo, embora a História pouco se tenha disso apercebido. Hoje sabemos que haverá sempre seres humanos que a reconhecem pela substância do seu silêncio. Pelo tempo e lugar do seu rigor de ave de arribação. Pelo seu fulgor. Pelo seu perfume. Pela riqueza inesperada das suas sugestões. Com um pequeno gesto os poetas soltam o seu pólen que, levado pelas palavras vai eternamente fecundando os arcos da beleza que erguem o universo e o põem em comunicação com Deus. […]

        E são da poesia as artes mais singulares de surpresa e de ocultação.[…]

 Manuel Hermínio Monteiro. Rosa do Mundo 2001 Poemas para o futuro. Porto 2001. Lisboa: Assírio & Alvim.


        "É que a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus em plena consciência da sua queda, atónito com as coisas. Como de alguém que conhecesse a alma das coisas e se esforçasse por rememorar esse conhecimento, lembrando-se de que não era assim que as conhecia, não com estas formas e nestas condições, mas de nada mais se recordando. […]”

Fernando Pessoa. Páginas Íntimas e de Autointerpretação. Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho. S. d. Lisboa: Edições Ática.



Dia do Pi - 14 de março

12:14 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments


Dia do Pi

14 de março




        O Dia do Pi é comemorado anualmente no dia 14 de março.

        A escolha desta data prende-se com o facto da notação americana das datas ser MM/DD e não DD/MM. Assim, nos Estados Unidos da América, a notação do dia 14 de março é 3/14, a aproximação mais conhecida de Pi (3,141592653589793238462643383...).

        A primeira comemoração do Dia do Pi aconteceu em 1988, em São Francisco, no Museu Exploratorium. Larry Shaw, considerado por muitos o "Príncipe do Pi", foi o fundador desta data comemorativa. Desde então a comemoração tornou-se internacional e tem ganho cada vez mais seguidores. A ESBN junta-se às comemorações deste dia, com a realização de um concurso - π a três D, mas também com a distribuição de biscoitos em forma de Pi.


      Mas, afinal, o que é o Pi?

        O Pi é o número mais famoso da história. É representado pela letra grega p, tem origem na relação entre o perímetro de uma circunferência e o seu diâmetro. Curiosamente, embora seja um número, não pode ser escrito com um número finito de algarismos.






10 março 2025

Camilo Castelo Branco

11:45 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 Camilo Castelo Branco

1825 - 2025




O AUTOR E A SUA OBRA

- Camilo Castelo Branco nasceu em Lisboa em 1825 e suicida-se em 1890, em S. Miguel de Seide.

- Aos dez anos, órfão de mãe e de pai, vai viver com uma tia em Vila Real, o que muito influenciará Camilo: as paisagens do Norte, a religiosidade, bem como o ambiente das cidades de província deixarão as suas marcas que se refletem, mais tarde, na sua produção literária.

- Em 1841, casa, com apenas dezasseis anos, com Joaquina Pereira de França, da qual tem uma filha, tendo-as abandonado em 1842.

- Em 1845, faz as suas primeiras tentativas literárias.

- Leva uma vida boémia e turbulenta, envolvendo-se em várias aventuras amorosas e em desacatos que agitaram a sociedade portuense, da qual Camilo tem um conhecimento profundo.

- Em 1850, deixa-se dominar totalmente pela paixão por Ana Plácido, mulher casada, o que lhe valeu a prisão na Cadeia da Relação do Porto, em 1860, cadeia que a jovem também conheceu, acusada pelo marido de adultério. É, também, em 1850 que escreve Anátema, a primeira novela importante da sua obra.

- Em 1854, inicia a publicação da novela folhetinesca Mistérios de Lisboa.

- Durante o cárcere, Camilo escreve Romance de um Homem Rico e Amor de Perdição.

- Libertados em 1861, iniciaram a sua vida em comum, primeiro no Porto, mas logo em seguida em Lisboa, uma vez que a rejeição social cedo se manifestou.

- Em 1864, instalam-se em S. Miguel de Seide, onde vivem uma vida de certa forma atribulada e dramática, marcada pela doença, loucura e morte dos filhos.  

- Para alimentar a família, escreve febrilmente, tendo publicado, entre outras obras, Vinte Horas de Liteira, Luta de Gigantes, O Retrato de Ricardina, Eusébio Macário e A Corja.

- Doente, cego e desesperado, suicida-se a 1de junho de 1890.

- Camilo Castelo Branco é, talvez, o mais popular romancista da literatura portuguesa e o primeiro a viver exclusivamente da sua escrita.


CAMILO E O SEU TEMPO

        Camilo atravessou toda a época romântica, sendo considerado a grande figura do segundo Romantismo português, movimento que é associado ao período da Regeneração.

        É um período de desenvolvimento em Portugal que vê a agricultura a desenvolver-se, a indústria a evoluir, as estradas e o caminho-de-ferro a surgirem, permitindo o alargamento das comunicações. É também por esta altura que surgem as ideologias socialistas e republicanas, sendo, igualmente, visível a expressão da classe operária. É, assim, uma época de contrastes aquela em que vive Camilo e a ela o escritor não ficou imune. “Deste modo, o quotidiano vivido pelos vários grupos sociais do Portugal de Oitocentos, saído das invasões francesas e das lutas liberais, mas ainda preso, sobretudo em certos meios da burguesia portuense e da pacatez patriarcal das Províncias do Norte, e, por isso mesmo, em permanente conflito de gerações, classes e interesses, transforma-se para o romancista numa inesgotável série de «romances inéditos de portas adentro», expressão usada, já em 1857, pelo narrador das Cenas da Foz.” (Aníbal Pinto de Castro, «Da realidade à ficção na novela camiliana». Tellus. Julho de 1987. In Maria Aparecida Ribeiro. História Crítica da Literatura Portuguesa – Realismo e Naturalismo. Vol. VI. Lisboa/São Paulo: Editorial Verbo).  


Elsa Machado de Freitas, Isabel Gomes Ferreira. Preparar os Testes 11.

Porto: 2020. Areal Editores.


06 março 2025

Escritas no feminino

12:31 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 Escritas no feminino


        Por ocasião da celebração do Dia Internacional da Mulher, está patente na Biblioteca António Nobre a exposição Escritas no Feminino.


        Visita a Biblioteca!

Dia Internacional da Mulher

12:22 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

Dia Internacional da Mulher

8 de março



        Este dia, dedicado a todas as mulheres e meninas do planeta, celebra-se desde 1975, embora só em dezembro de 1977 se tenha tornado a data oficialmente reconhecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

        Com esta celebração, pretende-se relembrar o caminho já feito em relação à igualdade de direitos, mas também relembrar o muito que há ainda a fazer. O tema deste ano é, assim, «Para todas as mulheres e meninas: direitos, igualdade, empoderamento».

        Apesar de se terem verificado muitos  progressos nas últimas décadas na UE, a violência e os estereótipos baseados no género continuam a existir. As mulheres continuam a ser vítimas de violência física e/ou sexual, continuam a ganhar cerca de 16% menos que os homens e representam uma baixa percentagem (8%) dos cargos de presidente executivo de grandes empresas.

        Há, pois, muito a fazer! E todos(as) devemos contribuir para essa mudança tão justa e tão desejada!