• Moodle
  • TNSJ
  • Serralves

17 março 2025

Dia da Árvore

13:01 // by Biblioteca Escolar António Nobre // No comments

 DIA DA ÁRVORE



        O Dia Mundial da Árvore ou da Floresta celebra-se anualmente a 21 de março e tem como principal objetivo sensibilizar a população mundial para a importância da preservação das árvores, uma vez que estas são imprescindíveis quer para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta, quer para a própria qualidade de vida de todos os cidadãos. 

        Estima-se que 1000 árvores adultas absorvem cerca de 6000 kg de CO2 (dióxido de carbono) e sabe-se que 30% da superfície terrestre está coberta por florestas, através das quais se realiza a fotossíntese, isto é, a produção de oxigénio a partir de dióxido de carbono. 

        As florestas, em conjunto com as algas marinhas são consideradas os "pulmões do mundo": fazem a manutenção e renovação dos diferentes ecossistemas e assumem uma enorme importância em áreas estratégicas como a economia e a produção de bens e alimentos. 

        É, por isso, normal que todos os anos, no dia 21 de março, decorram diversas ações de arborização e reflorestação, em diversos locais do mundo.


        Pela sua beleza poética sempre renovada, a natureza tem servido de estímulo criativo para muitas obras de arte ao longo dos tempos, seja na pintura, no desenho, na fotografia, na escultura ou na música. E a poesia não é exceção: nos mais variados locais do mundo, ao longo da história da humanidade, não faltam poemas inspirados nas sensações que as florestas e as árvores despertam no ser humano. Os seus sons, cores, perfumes, ritmos e até a sua longevidade têm sido musas inspiradoras para muitos poetas…

        Aqui ficam alguns belos poemas.



Poema das árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.


Começam por ser nada. Pouco a pouco

se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.


Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,

e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.


Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,

e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,

e os frutos dão sementes,

e as sementes preparam novas árvores.


E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.

Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.

Sempre sós.


Os animais são outra coisa.

Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,

fazem amor e ódio, e vão à vida

como se nada fosse.


As árvores, não.

Solitárias, as árvores,

exauram terra e sol silenciosamente.

Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;

com o vento soltam ais como se suspirassem;

e gemem, mas a queixa não é sua.


Sós, sempre sós.

Nas planícies, nos montes, nas florestas,

A crescer e a florir sem consciência.


Virtude vegetal viver a sós

e entretanto, dar flores.

                                           António Gedeão, in “Obra Poética”


A fermosura desta fresca serra,

E a sombra dos verdes castanheiros,

O manso caminhar destes ribeiros,

Donde toda a tristeza se desterra;


O rouco som do mar, a estranha terra,

O esconder do Sol pelos outeiros,

O recolher dos gados derradeiros,

Das nuvens pelo ar a branda guerra;


Enfim, tudo o que a rara natureza

Com tanta variedade nos of’rece,

Me está se não te vejo magoando.


Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

Sem ti, perpetuamente estou passando

Nas mores alegrias, mor tristeza.

                                               Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”


Como um vento na floresta,

Minha emoção não tem fim.

Nada sou, nada me resta.

Não sei quem sou para mim.


E como entre os arvoredos

Há grandes sons de folhagem,

Também agito segredos

No fundo da minha imagem.


E o grande ruído do vento

Que as folhas cobrem de som

Despe-me do pensamento:

Sou ninguém, temo ser bom.

                                                 Fernando Pessoa, in “Poesias Inéditas”


A um carvalho

Eis o pai da montanha, o bíblico Moisés

Vegetal!

Falou com Deus também,

E debaixo dos pés, inominada, tem

A lei da vida em pedra natural!


Forte como um destino,

Calmo como um pastor,

E sempre pontual e matutino

A receber o frio e o calor!


Barbas, rugas e veias

De gigante.

Mas, sobretudo, braços!

Longos e negros desmedidos traços,

Gestos solenes duma fé constante…


Folhas verdes à volta do desejo

Que amadurece.

E nos olha a prece

Da eternidade

Eis o pai da montanha, o fálico pagão

Que se veste de neve e guarda a mocidade

No coração!

                                                              Miguel Torga, in “Diário V”


A um Negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta.

Os meus versos são folhas dos seus ramos.

Quando chego de longe e conversamos,

É ele que me revela o mundo visitado.

Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,

E a luz do sol aceso ou apagado

É nos seus olhos que se vê pousada.


Esse poeta és tu, mestre da inquietação

Serena!

Tu, imortal avena

Que harmonizas o vento e adormeces o imenso

Redil de estrelas ao luar maninho.

Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso

Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

                                                                                             Miguel Torga 


Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração

Os pássaros nascem na ponta das árvores

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros

Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores

Os pássaros começam onde as árvores acabam

Os pássaros fazem cantar as árvores

Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam

movimentam-se

deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal

Como pássaros poisam as folhas na terra

quando o outono desce veladamente sobre os campos

Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores

mas deixo essa forma de dizer ao romancista

é complicada e não se dá bem na poesia

não foi ainda isolada da filosofia

Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros

Quem é que lá os pendura nos ramos?

De quem é a mão a inúmera mão?

Eu passo e muda-se-me o coração

                                                    Ruy Belo, in “Homem de Palavra(s)”



Árvore

Onde os frutos maduram:

sal e sol em minhas veias

luz e mel em boca alheia.


Onde plantei

a alta acácia das febres

eu mesmo me deitei,

para ser a raiz da semente,

e da madeira e seiva

se fez o meu corpo.


Agora,

Chove dentro de mim,

em minhas folhas se demoram gotas,

suspensas entre um e outro Sol.


Em mim pousam

cantos e sombras

e eu não sei

se são aves ou palavras.

                                         Mia Couto, in “Vagas e Lumes”


Cada árvore é um ser para ser em nós

Para ver uma árvore não basta vê-la

a árvore é uma lenta reverência

uma presença reminiscente

uma habitação perdida

e encontrada

À sombra de uma árvore

o tempo já não é o tempo

mas a magia de um instante que começa sem fim

a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas

e de sombras interiores

nós habitamos a árvore com a nossa respiração

com a da árvore

com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

                                                                                                   António Ramos Rosa



São eles que anunciam o verão.

Não sei doutra glória, doutro

paraíso: à sua entrada os jacarandás

estão em flor, um de cada lado.

E um sorriso, tranquila morada,

à minha espera.

O espaço a toda a roda

multiplica os seus espelhos, abre

varandas para o mar.

É como nos sonhos mais pueris:

posso voar quase rente

às nuvens altas - irmão dos pássaros -,

perder-me no ar.

                                                                   Eugénio de Andrade



É Primavera agora, meu Amor!

O campo despe a veste de estamenha;

Não há árvore nenhuma que não tenha

O coração aberto, todo em flor!


Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor

Da vida... não há bem que nos não venha

Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!

Não há bem que não possa ser melhor!


Também despi meu triste burel pardo,

E agora cheiro a rosmaninho e a nardo

E ando agora tonta, à tua espera...


Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...

Parecem um rosal! Vem desprendê-los!

Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...

                                                                        Florbela Espanca


 














0 comentários:

Enviar um comentário